Fibras de Carbono das Varas de Pesca

Atualmente, a grande maioria das varas de pesca de alto desempenho possuem seus blanks fabricados com fibras de carbono como principal componente.

As fibras de carbono são compostas de filamentos incrivelmente finos, em torno de 5 a 10 mícrons, feitos principalmente de átomos de carbono.

As mais relevantes características que as tornam a melhor opção para se construir varas de pesca são: o baixo peso, a alta resistência e a capacidade de proporcionar alta sensibilidade ao pescador.

Outras vantagens da fibra de carbono é ser quimicamente e termicamente estável, além de extremamente resistente a corrosão em água salgada.

Ainda, outro fator positivo, é que utilizando as fibras de carbono, os fabricantes conseguem ajustar precisamente a ação de suas varas. Esses ajustes podem ser efetuados com: combinações de diferentes tipos de fibras de carbono, adição de outros componentes, aplicação de diferentes técnicas de construção e fabricação dos blanks.

A fibra de carbono é extremamente confiável e já é utilizada mundialmente na construção de varas de pesca há muito tempo. A empresa líder mundial em fabricação de fibras de carbono (Toray – Japan), fornece fibras para construção de varas de pesca no Japão desde o ano de 1972.

Entre as diversas formas em que as fibras de carbono são comercializadas, na indústria de varas de pesca a mais utilizada é a chamada “Pre-preg”. São fibras de carbono já impregnadas com resina, formando uma espécie de “folhas de carbono”, caracterizando-se por ser extremamente finas e resistentes.

Sem dúvida, para a grande maioria das técnicas de pesca, a fibra de carbono é a melhor opção como matéria-prima principal para construção de varas de alto desempenho.

Porém, existem vários tipos de fibras com características e propriedades diferentes, que podem ser aplicadas de forma inteligente para otimizar a performance de cada modelo de vara, para técnicas de pesca diferentes.

As fibras de carbono são classificadas principalmente por modulus, medida de rigidez que descreve a capacidade de o material ser temporariamente deformado quando uma força é aplicada. É expressa geralmente pela unidade de medida inglesa PSI, libras força por polegada quadrada de área de seção transversal. Exemplificando, o modulus de uma barra de aço seria muito alto, e o de um elástico seria muito baixo.

Os fabricantes de varas ao redor do mundo utilizam diferentes nomenclaturas ou formas de classificar as fibras utilizadas em seus produtos. Você já deve ter visto ou ouvido falar nas siglas IM6, IM7, IM8 ou 24T, 30T, 40T, SM, HM, etc. Pois é, aí começa a confusão. O que de fato significam essas siglas?

Teoricamente, seriam as diferentes formas de classificar as fibras de carbono utilizadas nas varas de pesca, digo “teoricamente” porque ao longo do texto vocês vão perceber que as coisas não são tão simples assim.

A nomenclatura padrão mais utilizada mundialmente nas varas de pesca para indicar as fibras é o “T”, toneladas força por milímetros quadrados, que é basicamente o equivalente métrico da unidade inglesa PSI.

Algumas fábricas utilizam a nomenclatura “M” referente a Modulus, exemplo: SM (standard modulus), IM (intermediate modulus), HM (high modulus) e UHM (ultra high modulus).

A classificação IM6, IM7 e IM8 são siglas que estão presentes na memória dos pescadores brasileiros, pois antigamente várias varas de pesca importadas vinham com essas descrições. Porém, elas são de certa forma um termo de substituição para os padrões universais, que foi inventado por uma empresa de carbono específica e algumas outras fábricas de varas pegaram “emprestado” e a utilizam até os dias atuais.

Varas Carbono Tabela Carbono

Quanto maior o modulus, mais rígidas são as fibras de carbono. Essas fibras mais duras permitem o uso de menos material na construção dos blanks. É onde conseguimos os blanks mais leves.

Os blanks fabricados com maior modulus são os mais leves, possuem uma velocidade de recuperação maior (ação mais rápida), maior energia acumulada e proporcionam mais sensibilidade ao pescador. Perfeito! Então, podemos dizer que quanto maior o modulus, melhor a vara?

A resposta é: nem sempre! Além do modulus, as fibras de carbono também possuem uma “taxa de deformação” específica, onde quanto maior o módulo, menor é a taxa e quanto menor a taxa, mais “quebradiço” o blank pode se tornar.

Considerando que as varas com fibras de alto modulus possuem menos material e menor taxa de deformação, podemos dizer que acabam tornando-se mais vulneráveis a quebras, principalmente por mau uso (batidas, impactos, microfissuras, transporte, excesso de peso nos arremessos, esforço excessivo na briga com o peixe, etc....).

Por isso, é importante que as varas fabricadas com fibras de alto modulus tenham um projeto muito bem elaborado e executado para garantir a qualidade final do produto.

Resumindo, o que vemos na prática é que as varas montadas com fibras de alto modulus são mais indicadas para pescarias onde a sensibilidade é fator fundamental, como na pescaria de robalos com jighead, por exemplo; e as varas de modulus mais baixo podem proporcionar ótimos resultados em pescarias de extrema resistência a tração, como nas pescarias oceânicas. Atualmente, é muito comum as grandes fábricas utilizarem blanks chamados múlti-modulus, onde fazem um mix de diferentes tipos de fibras de forma a otimizar o desempenho de suas varas.

VARA PROJETADA ESPECIALMENTE PARA PESCARIAS ONDE A SENSIBILIDADE É FATOR FUNDAMENTAL, FABRICADA COM MIX DE FIBRAS DE ALTO MODULUS E NANOTECNOLOGIA

Vara Redai

Vara Redai Mamushi Nano C

VARA PROJETADA PARA PESCA OCEÂNICA, FABRICADA COM MIX DE CARBONO DE MODULUS INTERMEDIÁRIOS E TECNOLOGIA DE CONSTRUÇÃO PRIORIZANDO RESISTÊNCIA

Vara Redai

Vara Redai Ocean

Entretanto, não podemos nos preocupar apenas com a classificação da fibra de carbono, se ela é 30T, 40T, IM6, HM, etc... Esse é apenas um dos ingredientes para se fabricar um blank. Porém, existem muitos outros fatores tão ou até mais importantes que fazem a real diferença entre um blank de alta qualidade, desempenho e durabilidade. Como exemplo, temos o mercado americano como um dos maiores polos de comércio de blanks para varas de pesca. Na mesma loja, blanks de marcas diferentes, descritos pelas marcas como certa classificação de carbono, podem custar até quatro ou cinco vezes mais do que outro de outra marca com as mesmas classificações de carbono. Isso prova que a classificação do carbono não é o fator principal!

Alguns fatores, que somados, influenciam na qualidade e desempenho das varas são:

Qualidade das fibras de carbono

As fibras de carbonos são fabricadas por diversas fábricas no mundo e cada fábrica possui qualidade e características diferentes. Muitas vezes um carbono considerado alto modulus de uma fábrica, pode ser muito inferior ou superior ao alto modulus de outra;

Composição de diferentes tipos de fibras

Uma composição adequada pode influenciar na resistência, peso, ação e sensibilidade dos blanks;

Direção das fibras ou folhas de carbono

Interferem diretamente na resistência e flexibilidade do blank;

As resinas e outros componentes utilizados na fabricação dos blanks

Extremamente importantes na qualidade final do produto. Algumas resinas com nanotecnologia, por exemplo, possuem características de preencher mais intensamente as fibras de carbono, tornando-as mais resistentes e mais sensitivas com a utilização de menos material, o que impacta no peso final do blank;

Mandril

O design, a conicidade e a qualidade dos mandris influenciam diretamente no desempenho final dos blanks. É ele que serve de molde para o blank;

Processo de fabricação

Desde o armazenamento das fibras de carbono em local refrigerado, manipulação das folhas sem contato direto com as mãos, precisão do corte das folhas, enrolamento adequado nos mandris, cura do blank em temperatura e períodos adequados até a remoção dos resíduos e acabamento do blank, testes e controle de qualidade, e ainda todo o processo de montagem dos demais componentes da vara em geral;

O projeto

O item mais importante de todo processo é com base no projeto apresentado pela marca, que os engenheiros da fábrica avaliam e decidem como dar sequência em todos os processos de fabricação de cada modelo de blank.

Carbono Central

Qualidades diferentes: a esquerda blank de baixa qualidade e a direita, alta qualidade. No detalhe, reparem a deformidade na parede do blank da esquerda.

A título de curiosidade, pesquisando em outros ramos onde as fibras de carbono são utilizadas como matéria-prima principal, especialmente em produtos de alto desempenho, como bicicletas, por exemplo, é fácil perceber que existe também uma falta de informação mais detalhada ao consumidor final sobre o que realmente eles estão comprando.

Como não há uma regulamentação positiva de como os fabricantes devem utilizar as nomenclaturas ou classificações das fibras de carbono, muitas vezes as empresas tentam convencer o público de que estão utilizando algo especial, usando termos técnicos que na verdade tem pouco significado pertinente.

Fica como dica: não fique envolvido somente na descrição de qual tipo de fibra de carbono o fabricante descreve em seus produtos, analise a vara como um todo. Analise se ela está realmente adequada as suas técnicas de pesca e se a qualidade geral do produto é satisfatória!

Diretor de projetos da Redai